Já parou para pensar de onde vem o preconceito? Será o medo do diferente, do desconhecido? Será o espanto, a curiosidade? Ou apenas uma ignorância infundada e a teimosia em se fazer incapaz de aceitar?

Neste mês de junho celebramos a diversidade e inclusão, o respeito e o apoio a causa LGBT+, com o intuito de promover a igualdade entre as culturas sexuais e de gênero. Este movimento acontece em homenagem ao episódio de 28 de junho de 1969, quando pessoas que estavam no bar Stonewall Inn, Nova Iorque, reagiram a uma série de batidas policiais.

Desde este momento travou-se uma luta para ser aceito e, principalmente, entenderem que somos todos iguais. Seres humanos com sonhos, histórias, famílias e uma enorme vontade de amar e ser amado. Por isso, convidamos alguns colaboradores para contarem um pouco de suas vivências e compartilhar a batalha contra este preconceito latente.

Hans Thiago Ramos, consultor de relacionamento, na Care Plus há 10 meses, conta que tem o sonho de ver a sigla LGBTQIA+, que começou com GLS, se extinguir, pois todos poderão se encaixar nela no futuro, todos serão considerados, finalmente, iguais. Mas, neste momento, a aceitação ainda é algo muito difícil.

“Tenho amigos que sofreram agressão física, que tentaram o suicídio, que se prostituíram e digo que, como homossexual, todos os que me rodeiam tem muito a aprender, muito o que evoluir. Reconheço que, a única maneira disso acontecer, é passar o máximo de informação para todas as pessoas, contar minha história. Estou acostumado a ouvir que não sou um homossexual afeminado, que é errado ter este ‘problema’, que é errado um menino fazer coisas de menina ou ouvir minha mãe questionar se não vou me vestir de mulher..., mas, me diga! Por favor, qual o problema? Por que segregar a tudo e a todos?”, comenta Hans.

Ramos conta ainda que sua aceitação foi muito difícil, principalmente para ele próprio. Teve sua primeira experiência sexual aos 17 anos, mas só tomou coragem para contar para os pais aos 23, por vergonha de si, mesmo assim, se sente privilegiado. Quem não se aceitava era ele, pois o medo tomava conta de tudo. Quando finalmente contou chorando, seus pais e sua avó aceitaram super bem, já que sempre perceberam algo que nem mesmo ele percebia.

Já Samuel Sampaio, criado em uma família tradicional nordestina e extremamente religiosa, sempre soube que era bissexual. Demorou para contar aos pais por medo da reação de ambos, mas, quando tomou coragem, eles respiraram aliviados ao descobrirem que o assunto era sua orientação sexual, pois acharam que ele estava usando drogas.

“Sempre falei abertamente na Care Plus sobre minha sexualidade e tenho grandes amigos que também fazem parte da comunidade. Hoje noto um grande avanço, de âmbito mundial, em relação as questões de diversidade, mas nem todas as pessoas estão preparadas para isso. Ainda há muito preconceito, crueldade, medo do que é diferente e ódio gratuito em forma de negação a nossa existência.”, diz Samuel,

Para inserir esta comunidade no mercado de trabalho, especialmente os transsexuais e travestis, ele cita que o Brasil precisa de um preparo maior em relação aos colaboradores e as normas da empresa, tudo para que todos se sintam à vontade e não tratem as pessoas como algo estranho ou novo. “É fato que a empresa tem levado esta questão muito a sério e que tem evoluído bastante, tanto ao apoiar a causa, quanto ao empregar pessoas que integram a sigla, mas ainda tem muito a ser feito.”.

Com Caio Oliveira, analista de compras, a história foi um pouco diferente. Foi o intercâmbio para Malta que mudou seu modo de ver a vida. Lá, em outro país, conheceu pessoas de diferentes culturas, conviveu em um mundo mais livre, menos preconceituoso e opressor, onde ser “diferente, era normal” e aprendeu a se aceitar, a se amar mais. A faculdade também ajudou, é um lugar onde ele consegue conversar e conhecer mais sobre a causa LGBT+.

“Enquanto curso a faculdade de relações internacionais, que não aborda muito o tema diversidade em suas aulas, comecei a pesquisar e fazer artigos sobre dois assuntos, orientação sexual e negros, para movimentos e grupos da qual faço parte. Criamos algumas rodas de conversa para levar o máximo de conhecimento para as pessoas e, além disso, sempre gosto de participar ativamente de passeatas e movimentos a favor das causas.”.

A escolha de Caio em dominar os temas e repassar seu conhecimento para todos é resultado de sua trajetória. Nascido em uma família extremamente religiosa, desde que se assumiu bissexual, resolveu explicar tudo em casa, com o intuito de todos entenderem, inclusive ele próprio, que isso não é errado, não é motivo de vergonha. “Desde muito novo me questionei sobre, sofria muito e achava que não era algo bom para mim, então passei muito tempo travando uma luta interna, com medo de ser rejeitado, de viver sozinho. Foi o conhecimento que mudou tudo e, neste momento, abri as portas para minha vida afetiva, me abri para a vida.”, relembra ainda ele.

“Ainda falta muito para a sociedade nos ver como somos. Ainda falta muito para perdermos o medo e a vergonha de nossas famílias. Ainda falta muito para sermos vistos. É muito importante sermos quem somos, sem achar que precisamos compensar nossa orientação a cada minuto. Somos fruto de uma história sofrida e demoramos para aceitar quem somos”. Este é um dos trechos da conversa com a Danielle Ribeiro, analista de credenciamento.

Ela conta que foi complicado para ela entender que gostava de homens e de mulheres também. Se aceitar foi ainda mais complexo por ser fruto de uma família com costumes enraizados. O preconceito, muitas vezes, começa em casa ou da falta de conhecimento sobre o assunto, e com Danielle foi assim. Por isso, escolhe sempre compartilhar informações sobre tudo o que sabe.

Por fim, a Ivone Patelli, analista de autorização na Care Plus e ativista da causa, conta um pouco sobre suas vivências e experiências. A religião afro centrada foi a porta de entrada para o envolvimento ativo na causa. Era um grupo mais aberto no quesito aceitação, ajuda e apoio e, com isso, ela questionou seu papel e como poderia conscientizar a sociedade.

“Muitos transsexuais, travestis e homossexuais ainda são marginalizados e não tem acesso e proteção das leis. Por isso, a escritora Edith Modesto teve um papel enorme em minha história, ajudando-me a desenvolver uma consciência de mundo mais aberta e respeitosa. É um trabalho árduo o de superar um preconceito tão grande, um assunto que muitos veem de maneira estreita e engessada, até mesmo ignorante, mas continuo tentando sempre.”, diz Ivone com esperança e garra.

Ela fala ainda que devemos ter empatia com o sofrimento das pessoas e não preconceito por nossas diferenças, sejam elas quais forem, afinal somos todos iguais. A educação deve vir desde a infância, um trabalho de aceitação nas escolas, explicação e muito estudo poderia ser a porta para abrir mentes, já que uma criança não nasce com pré-conceitos determinados. “Minha irmã, por exemplo, achava que era errado sentir atração por mulheres, achava que era algo nada natural e, por isso não se aceitava. Foram muitos momentos que me fiz presente para ajuda-la a se aceitar e a entender que não existe erro nesta história.”, finaliza ela.

É fato que inúmeras mudanças positivas já aconteceram, mas ainda há muito o que percorrer, muitos aprendizados precisam ser passados em frente, precisamos de muita ajuda. É válido dizer que, não se consegue lutar contra a própria natureza e que orientação sexual não é uma escolha. Ser homossexual não é errado, somos muito mais do que nossa orientação sexual, somos pessoas, somos profissionais, somos filhos, somos irmãos, sobrinhos, netos.

Aos jovens, o conselho de todos é: não se camufle para se encaixar em algum lugar. Ser diferente do padrão é o te torna especial e único. Vista a camisa da causa e se conheça para se aceitar, não tenha vergonha, não tenha medo. Orgulhe-se de sua coragem, dê voz a causa, leve conhecimento aos ignorantes.